quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Este belo material, foi publicado  em 18/10/2012, por

Formação: ----- - Sommelier da Miolo Wine Group em Santa Catarina. - - Proprietário da Santa Adega Vinhos Finos em Florianópolis. - - Formado Sommelier em 2007 pelo SENAC-SC - - WSET Level 1 - - Sommelier pela Professional Culinary Institute da Califórnia - - Certified Sommelier da Court of Master Sommelier em prova realizada na Califórnia. -


Quinta da Figueira - O Vinho de Autor de Florianópolis

Há cerca de dois anos conheci o amigo Rogério Gomes e seu projeto um tanto ousado: produzir um vinho de qualidade em Florianópolis.

Mr. Gomes bebeu seu primeiro vinho fino há cerca de sete anos atrás e estranhou, mas foi desafiado pelo amigo a encontrar aromas, gostos e texturas naquele caldo e o desafio foi aceito, passou cerca de três anos bebendo vinho todos os dias e aquilo cada vez o encantava mais, nesse momento ele decidiu que precisava produzir seu próprio vinho. Foi nos Estados Unidos, em 2008, que conheceu uma loja que vendia mostos preparados, prontos para fermentar, e importou um desses mostos para fazer seu primeiro vinho, segundo ele “horrível”. Mas, ali se dava o início de um belo projeto chamado Quinta da Figueira. No ano seguinte junto a um amigo enólogo comprou uvas de Bento Gonçalves e ainda no seu apartamento produziu um vinho “por completo”. Ano após ano a quantidade de uva foi aumentando, passando pra 2,5 toneladas chegando a 3,5 toneladas, agora compradas de São Joaquim de diferentes vinhedos acima de 1.200 metros sobre o nível do mar, expressando bem o terroir da região.


Literalmente um vinho de Garagem



Seu apartamento ficou pequeno e o projeto se mudou para a casa de seu pai, no bairro Coqueiros, sua curiosidade e a busca de conhecimento para fazer um vinho correto e de qualidade o levou a ingressar no curso a distância de Enologia da conceituada Universidade da Califórnia em Davis, reconhecida mundialmente como referência em estudos sobre a vitivinicultura.

Hoje ele possui quatro safras e a evolução é visível, os vinhos têm personalidade e um estilo bem pessoal, com inovações e métodos não tão comuns de se observar na maioria dos vinhos, pode-se dizer que hoje o projeto Quinta da Figueira é um verdadeiro Vinho de Autor.





Na noite de terça feira Rogério organizou um jantar harmonizado para apresentar os seus vinhos, o
local escolhido foi o Restaurante Brancaleonede Gabriel Damasceno e João Lombardo.

O ambiente estava muito descontraído e os vinhos foram sendo servidos e apresentados pelo Rogério. Iniciamos, como “welcome drink”, com o Garapuvu 2012, ainda em tanques, mas engarrafado especialmente para o evento. É um Chardonnay fermentado em dois estilos, a sua maioria sem as casca e uma pequena parte com maceração, além disso foram utilizadas aduelas de carvalho Frances de média tosta. Um vinho que retém uma bela acidez, mas era visível que ainda não estava pronto, a madeira não era evidente e alguns aromas de frutas cítricas apareceram.





Para a entrada, deliciosos Crostinis di Margherita e di Calamare alla Provenzale, foi escolhido um vinho de perfil totalmente diferenciado, e diria até único. Era o Garapuvu da Safra 2010, um Chardonnay também com duas fermentações, sendo cortado 50% com o vinho que fermentou com as cascas e 50% sem as cascas. Passou ainda por 3 meses em barricas de carvalho americano. Chamou muito atenção sua coloração amarelo dourado, quase indo pra cor dos “Orange wines”. Aromas que remeteram à Jerez Fino, lembrando nozes, baunilha, casca de laranja e algo de frutas secas. Na boca é volumoso, brincamos que às cegas muita gente ia pensar ser um tinto. De intenso gosto sápido e presença marcante. Combinou perfeitamente com o Calamare e mostrou bela evolução em taça.

Não é só o branco que tem nome criativo que remete diretamente à cultura da Ilha de Santa Catarina, toda a linha, inclusive o nome do projeto, faz alusão à Florianópolis



Mr Gomes explicando sobre a filosofia de seus vinhos.



O primeiro vinho tinto chegou harmonizando com Ravioli de Prosciutto Crudo al Sugo e Basilico, com pedaços de tomate aportando uma acidez gostosa contrastando com o Prosciutto Crudo, combinação perfeita com um vinho rico e intenso., era o Quinta da Figueira Reserva Perpétua Lote I. Essa linha tem a filosofia de perpetuar uma reserva contínua de uma parte do lote, para que possa ser utilizado na próxima safra, criando um vinho multisafrado. Esse, no caso, é uma reserva da safra 2009, um Cabernet que estagiou 14 meses em barricas Francesas usadas e um vinho Cabernet/Merlot da safra 2010 que permaneceu 6 meses em barricas americanas novas. Um vinho fresco, jovem e com aromas de fruas vermelhas, lembrando até mesmo pitanga. A passagem por barrica era percebida com aromas de café e baunilha. Sua ótima acidez se mostrou muito gastronômica e refrescante, dando equilíbrio aos taninos de boa estrutura. Um vinho com personalidade.

Os outros vinhos, liderados pelo Reserva Perpétua Lote II, vieram harmonizando o segundo prato um Risotto AL Ragú de Ossobuco. Esse primeiro era um corte de 40% do Lote I com 60% de um Merlot da Safra 2011, sem madeira. A presença da Merlot era altamente perceptível, dando uma maciez deliciosa junto à notas de frutas carnudas e maduras. Ameixas, cassis e especiarias foram percebidas. Seus taninos macios e um final bem marcado deram água na boca.


Ravioli



Na sequência veio o Quinta da Figueira Ponte Velha 2010, uma linha que utiliza um maior tempo de maceração aumentando a extração. É um corte de iguais proporções de Cabernet Sauvignon e Merlot com 12 meses de barricas novas de carvalho americano e francês. O estilo já se observa na cor mais acentuada e um bouquet mais intenso de frutas vermelhas e um leve herbáceo. Na boca aporta taninos encorpados e boa concentração.


Risotto



O último vinho servido foi o que mais me chamou atenção, não só pelo corte “super-serrano” com Sangiovese, Cabernet Sauvignon e Merlot (40%, 30% e 30%), mas pelo seu estilo. É oQuinta da Figueira Miramar 2011. O lote de Sangiovese não passou por barrica e o Cabernet/Merlot estagiou durante 12 meses em barricas americanas novas. Bela cor e aromas intensos, cereja, ameixa, um leve mentolado, especiarias e aromas provenientes da madeira dão complexidade ao vinho. Na boca é intenso e demonstra um belo potencial de guarda, com a bela acidez típica da Serra e da uva Sangiovese e taninos firmes. Vinho gastronômico, mas que pode ser degustado com calma e apreciado por si só. Uma delícia!




A noite ainda teve uma surpresa quando todos os presentes foram agraciados com uma garrafa do Quinta da Figueira Ponte Velha 2010, fechando com chave de ouro!


Parabéns ao amigo Rogério Gomes pelo que ele conseguiu alcançar com esse projeto. A qualidade é visível e vale a pena ser experimentado, não só pelo tom inusitado, mas por ser um vinho muito bem feito.

Você pode encontrar o Quinta da Figueira no site www.quintadafigueira.com.br

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